Louvado seja Allah, o Senhor do
Universo. Testemunho que não outra divindade além
de Allah e testemunho que o Muhammad é Seu servo e
Mensageiro.
Queridos irmãos e irmãs, inicio este sermão com as
palavras de Deus reveladas por meio do Alcorão sagrado:
“Em verdade, o homem foi criado com suscetibilidade
ao medo e desespero. Quando o mal o toca, se irrita
e o acomete o desanimo. Mas quando o bem o toca,torna-se
avarento”. (Alcorão, 70:19-21)
Irmãos e irmãs na fé, esse nobre versículo contém
uma verdade comprovada em relação ao ego humano. O
ser humano, quando passa por dificuldades, sente um
medo que pode chegar aos extremos e levá-lo ao desequilíbrio
emocional, fazendo com que tome decisões incoerentes
e fora do real foco e contexto de valores.
Essa verdade que nos é informada no Alcorão, faz parte
de nosso dia a dia. A cada raiar do sol, o ser humano
fica exposto a diversas situações, adversas ou não,
num só dia.
Algumas situações o fazem momentaneamente felizes,
e outras o transportam para um mundo de tristeza profunda.
A pessoa sai de casa para o seu trabalho com disposição
e ânimo até se deparar com o acúmulo de atividades
que a levam à impaciência com as outras pessoas, fazendo
com que sentimentos nocivos se apoderem de seu coração,
por exemplo, a raiva, a tristeza e a desolação. Caso
venha a fechar um negócio rentável, fica radiante
de alegria, mas se logo depois recebe a notícia de
que seu filho adoeceu, se entristece novamente e,
havendo a cura, volta a vibrar de alegria... e ,com
esta sucessão de situações e emoções em um mesmo dia,
as pessoas se tornam reféns e vulneráveis a tudo,
muitas delas durante uma vida inteira.
Vemos as pessoas, em geral, preocupadas em manter
certo padrão de vida, com muito medo de perder o que
conquistaram em termos materiais; os comerciantes
e empresários preocupados com eventuais prejuízos
e recessão da economia; empregados de todas as categorias
com receio de perderem seus postos de trabalho; todos
com muita preocupação referente à saúde, temendo a
moléstias que os incapacitem de cumprir suas tarefas
e responsabilidades; temem em ver a juventude do corpo
se esvaindo e entrar na terceira idade, os aproximando
da morte; e, além de tudo, temem que seus bens ou
fortunas caiam em mãos estranhas após sua morte!!!
Ao ser acometido por qualquer infortúnio, o ser humano
empalidece, entra em estado de medo ou pavor, não
se aguenta sobre os calcanhares, acumulando as preocupações,
mas quando recupera os bens e a saúde perdidos, volta
a se regozijar! Para que o ser humano fique imune
as intempéries do cotidiano, preservando assim o seu
estado emocional, ele deve compreender a tênue linha
que separa os conceitos referentes ao bem e ao mal
e rever os padrões de pensamentos que regem sua mente
e se apoderam de seu estado de humor.
Quais os seus parâmetros para definir o que é bom
e o que é ruim para a sua existência?
As vidas das pessoas são repletas de situações que
são rotuladas como boas e ruins, auspiciosas e mal
agouradas; a rotulação não tem nenhum fundamento real.
A pobreza ou a vida modesta, a doença e as dores,
os infortúnios ou as privações, as provações e a morte,
não podem ser vistas como algo ruim, assim como não
podemos ver a riqueza material e o conforto, o prestigio
social e o poder sem limites como algo bom. Todas
essas condições devem ser vistas como uma massa a
ser modelada, são elementos e matéria-prima que foram
colocadas em nossas mãos. O que fazemos com essas
situações é o verdadeiro critério que deve ser usado
para definirmos o que é bom ou ruim.
A pergunta correta não se inicia com “por que”, mas
“para quê”. Se você é um daqueles que costuma rotular
as situações da forma descrita anteriormente, preste
atenção nas palavras de Deus, o Altíssimo: “Quanto
ao homem, quando seu Senhor o coloca à prova, honrando-o
e agraciando-o, diz (empertigado): ‘Meu Senhor me
honrou!’. Porém, quando o coloca à prova, restringindo
a sua graça, diz: ‘Meu Senhor me humilhou!’”. (Alcorão,
89:15-15)
A abundância não é concedida por Deus para nos honrar,
assim como a privação que nos alcança não vem de Deus
para nos humilhar. Ambas situações têm de ser recebidas
e aceitas como provações. A abundância e a privação
são páginas em branco, uma dádiva de Deus, para que
façamos uso de nosso livre-arbítrio, uma oportunidade
para escrever a nossa história, criarmos a nossa realidade
em todos os sentidos nas quais podemos anexar mais
páginas ou rasgá-las tomados de raiva e inconformismo.
Com a abundância, poderemos nos afastar do caminho
e acumular más ações, empobrecendo assim a nossa bagagem
carregada conosco na passagem para a outra vida; mas
também poderemos organizá-las ou mesmo fazê-las transbordar
de boas ações que levam a prosperidade a muitos lares,
por exemplo. A pobreza também pode nos levar para
fora do caminho, ao nos entregarmos à ilusão de que
na abundância material mora a felicidade, podemos
chegar a cogitar em ter atitudes que nos levam, por
exemplo, a cometer delitos e destruir lares.
O chefe e o subordinado, o dono do poder e o oprimido,
o belo e o destituído de beleza, o esperto e o humilde,
o famoso e o anônimo, todos têm as condições necessárias
para transformar as condições e circunstâncias em
que se encontram, em ferramentas que os ajudarão a
trilhar seus próprios caminhos rumo ao bem ou ao mal.
Tudo na vida depende da forma e da perspectiva de
nossa visão. O ideal é procurarmos a trilha que nos
leva a ter uma visão de 360º, mas isso só é possível
se aceitarmos as palavras de Deus, que nos garante
que o tempo em que vivemos na Terra e ínfimo se comparado
à eternidade, se basearmos nossas vidas na certeza
de que sim, existe o Paraíso e o inferno, de que sim,
o Juízo Final já existe e está a nossa espera; os
conceitos mundanos de bom e ruim se diluem, pois assim
entramos na esfera do conhecimento dessas verdades.
Ao analisarmos o versículo que dá sequencia ao nobre
versículo mencionado no inicio deste sermão, constatamos
que a pessoa que é crente fica imune às suscetibilidade
e não se desespera. Deus definiu, por meio do Alcorão
Sagrado, oito características que diferenciam o crente.
Voltemos ao início para meditarmos sobre o seu conteúdo
de forma profunda e com razoamento. O Altíssimo diz:
“Em verdade, o homem foi criado com suscetibilidade
ao medo e desespero. Quando o mal o toca, se irrita
e o acomete o desanimo, mas quando o bem o toca, torna-se
avarento. Exceto os que oram e perseveram nas orações
e parte de seus bens destinam, como por direito, para
o mendigo e o desafortunado. São aqueles que creem
no Dia do Juízo e são reverentes, por temor ao castigo
do Senhor, pois, desse castigo, ninguém está seguro.
São aqueles que protegem a castidade, salvo com as
suas esposas ou aquelas que estiverem cativas ou escravas
- e, nisso não são censuráveis. Mas os que cobiçam
mais mulheres, serão culpados de transgressão. Os
que respeitam as suas obrigações e os seus compromissos,
que são sinceros em seus testemunhos, e os que preservam
as suas orações, estes serão honrados com jardins”.
(Alcorão, 70:19-35 ).
Percebemos que as características se iniciam com a
menção dos que fazem as orações e se encerra novamente
com eles, englobando as orações prescritas e voluntárias.
A oraçao é o cordão que nos liga a Deus, o Louvado,o
Altíssimo e, por meio dela, alcançamos o bem-estar
espiritual, o equilíbrio emocional e a pacificação
do coração.
GRAÇAS A DEUS, O SENHOR DOS MUNDOS.
Sheikh Mohamad Al Bukai
14/10/2011