Há 5 anos atrás, li no Toronto
Star, edição de 3.7.90, um artigo intitulado "O
Islam não está sozinho nas
doutrinas patriarcais", de Gwyne Dyer. O artigo
descrevia as reações furiosas das participantes de
uma conferência sobre mulheres e poder, realizada
em Montreal, aos comentários da famosa feminista egípcia,
Dra. Nawal Saadawi.
Suas declarações "politicamente
incorretas", incluíam: "os elementos mais
restritivos em relação às mulheres, podem ser encontrados,
primeiro no Judaísmo, Velho Testamento, depois no
Cristianismo e, finalmente, no Alcorão"; "todas
as religiões são patriarcais porque elas provêm de
sociedades patriarcais"; e "o véu das mulheres
não é uma prática especificamente islâmica mas, sim,
um herança cultural antiga, com analogia nas religiões
irmãs". As participantes não puderam ficar sentadas,
enquanto suas crenças estavam sendo igualadas ao Islam.
Assim, a Dra. Saadawi recebeu uma avalanche de críticas.
"Os comentários da Dra. Saadawi eram inaceitáveis.
Suas respostas revelavam uma falta de compreensão
acerca da fé das outras pessoas" , declarou Bernice
Dubois, do Movimento Mundial de Mães. "Eu tenho
que protestar", disse a participante Alice Shalvi,
da televisão feminina de Israel, "não existe
o conceito do véu no Judaísmo". O artigo atribuía
esses furiosos protestos a uma forte tendência no
Ocidente de culpar o Islam por práticas que são muito
mais uma parte da própria herança cultural do Ocidente.
"As feministas cristãs e judias
não irão se sentar para discutir, em igualdade de
condições, com as más muçulmanas", escreveu Gwyne
Dyer.
Não me surpreendeu que as participantes
da conferência tivessem uma tal visão negativa do
Islam, especialmente por envolver questões femininas.
Acredita-se, no Ocidente, que o Islam é o símbolo
da subordinação das mulheres por excelência. A fim
de compreendermos como está enraizada tal crença,
basta mencionar que o Ministro da Educação da França,
a terra de Voltaire, recentemente ordenou a expulsão
das escolas francesas, de todas as jovens muçulmanas
que vestissem o Hijab! Na França é negado a uma jovem
muçulmana, que usa um lenço, o direito à educação,
enquanto que estudantes católicos podem usar uma cruz
ou um estudante judeu pode usar o solidéu. A cena
de policiais franceses, impedindo jovens muçulmanas
com as cabeças cobertas de entrarem no colégio, é
inesquecível. Este fato nos traz à memória outra cena
igualmente triste, a do Governador George Wallace,
do Alabama, em l962, em pé, defronte ao portão da
escola, tentando bloquear a entrada de estudantes
negros, a fim de impedir a desagregação das escolas
do Alabama. A diferença entre as duas cenas é que
os estudantes negros tiveram a simpatia de muitas
pessoas nos EUA e no mundo inteiro. O presidente Kennedy
enviou a Guarda Nacional Americana para forçar a entrada
dos estudantes negros. As moças muçulmanas, por outro
lado, não receberam a ajuda de ninguém. Sua causa
parece ter muito pouca simpatia, tanto dentro da França
como fora. A razão é a incompreensão e o medo de tudo
que seja islâmico no mundo atual.
O que mais me intrigou sobre a
conferência de Montreal foi uma questão: As declarações
feitas por Saadawi, ou qualquer de suas críticas,
são verdadeiras? Em outras palavras, o Judaísmo, o
Cristianismo e o Islam têm o mesmo conceito sobre
as mulheres? São tais conceitos diferentes? O Judaísmo
e o Cristianismo, na verdade, oferecem às mulheres
um tratamento melhor do que o Islam? Qual é a verdade?
Não é tarefa fácil pesquisar e
encontrar respostas para estas questões difíceis.
A primeira dificuldade é que a pessoa tem que ser
honesta e objetiva ou, pelo menos, fazer o máximo
para o ser. Isto é o que o Islam ensina. O Alcorão
instruiu os muçulmanos a dizerem a verdade, mesmo
que aqueles que estejam próximos a eles não gostem
disso:
"... e se falardes, sede
justo, mesmo que se refira a um parente próximo"
(6:152);
"Ó aqueles que creram,
erijam a justiça na partilha, como testemunhas de
Alá, ainda que contra vós mesmos, ou seus pais ou
seus parentes, ..."
A outra grande dificuldade é o
fôlego irresistível do assunto. Por essa razão, durante
os últimos anos, passei muitas horas lendo a Bíblia,
a Enciclopédia da Religião e a Enciclopédia Judaica,
na busca de respostas. Também li muitos livros que
discutem a posição das mulheres nas diferentes religiões,
escritos por exegetas, apologistas e críticos. O material
apresentado nos capítulos seguintes representa as
descobertas importantes dessa humilde pesquisa. Eu
não sou objetivo, absolutamente. Isto está além da
minha limitada capacidade. Tudo que posso dizer é
que tentei, através dessa pesquisa, me aproximar do
ideal alcorânico de "falar imparcialmente".
Gostaria de enfatizar nesta introdução,
que minha proposta para este estudo não é denegrir
o Judaísmo ou o Cristianismo. Como muçulmanos, acreditamos
nas origens divinas de ambos. Ninguém pode ser muçulmano
sem acreditar em Moisés e Jesus como grandes profetas
de Deus. Meu intento é somente afirmar o Islam e pagar
um tributo para a última mensagem verdadeira de Deus
para a raça humana. Também gostaria de enfatizar que
me preocupei somente com a Doutrina, isto é, minha
preocupação é, principalmente, a posição das mulheres
nas três religiões, como aparece em suas fontes originais,
e não como é praticada por seus milhões de seguidores
no mundo hoje. Por causa disso, a maior parte das
evidências citadas vêm do Alcorão, dos ditos do Profeta
Muhammad, da Bíblia, do Talmud e dos ditos de alguns
dos mais influentes padres da Igreja, cujos pontos
de vista contribuíram imensamente para definir e desenhar
o Cristianismo. Muitas pessoas confundem cultura com
religião, e outras não sabem o que seus livros religiosos
dizem, e outras ainda, sequer se preocupam com disso.
Dr.Sherif Abdel Azeem Mohammed